domingo, 1 de agosto de 2010

Visitando

Olá,
eu precisava lhe fazer essa visita. Essa eu sabia de que precisava, primeiro por dívida, depois por benefício.

Mas teve outra visita que eu fiz. Pior, também por dívida, mais que por benefício. E isso é bem ruim. Eu preferiria que fosse ao contrário. Mas ela ainda me liga, ainda me liga pra me dizer "onde você está? porque eu estou no mesmo lugar". A dívida que eu criei desde que existo não há como pagar, mas eu consegui dever mais que a maioria e dever isso duas vezes. Como faço? Tudo bem, sou grata. Sou grata do tipo que bom que ela fez tudo isso, graças a Deus que ela fez tudo isso, porra... mais que tudo. Mas e aí? Ainda assim, não pedi. A gente pode dever o que não pede? Pode pagar aquilo que não tem?

Ela diz ser diferente desde pequena. Inicialmente parece ter conseguido um bom desenvolvimento, até destaque. Quando estourou a casca do seu ovo, congelou. Sempre se machucou muito, desde o início, e quando precisou do corpo ele não respondeu. A inércia prevaleceu. A partir de então começou a degenerar. Suas funções, que necessitavam do coitado do corpo, foram sendo perdidas. Ela guardou uma. Guardou a melhor.

Poder-se-ia dizer que essa precisa mais apenas da vida que as outras. Ou não. Vai ver ela é muito isso, esqueceu do resto. Prioridades, vai saber... Fato é que ela passou a definir-se mais por essa função que por si.

E agora, que faço eu se tiver de dizer a essa mulher que essa função não é mais aquela?

Ela diz que prefere que não a visite mais. Eu prefiria que as minhas visitas fosse menos culpadas. Que alegrassem em vez de lembrar a dor. Pode a presença não lembrar a falta?